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Toda forma de amor valerá, Exposição de Rosylene Pinto

Galeria do SESC Arsenal com itinerância no SESC Rondonópolis, 2019

Terra-Água, na alquimia natural, estes dois elementos se encontram, se embrenham, se internam... Na complementariedade, se misturam provendo matéria para vidas no planeta Terra! Na visão Bachelardiana,

“...a mão que trabalha, tem necessidade da exata mistura da terra e da água para bem compreender o que é uma matéria capaz de uma forma, uma substância capaz de uma vida” (BACHELARD, 1997, p.2).

O barro, nessa mistura, se torna matéria para abrigar, acolher, proteger, aninhar, alimentar, fazer, saber, pensar, transformar, criar, transcender e reinventar... A mão que é capaz de trabalhar tem a ânsia de conhecer, e muitas vezes de se conhecer.  Assim são as mãos da artista Rosylene Pinto, que ao trabalhar o barro, ao misturar-se com ele através de suas mãos, se modela em cada trabalho. Assim falando pela linguagem do barro (terra e água), cochicha de si. Ao cochichar para si mesma, conhece o mundo e o outro. 

Ar-fogo, no processo de transformação da matéria, a artista estabelece um diálogo com seus sonhos e com sua expressão no/para o mundo que materializa. É nessa fusão entre os elementos que surge a arte escultórica da argila que se transforma em cerâmica quando o ar se doa ao fogo para que suas peças adquiram resistência e noção de temporalidade. Na interação dos elementos, ela se envolve em suas memórias afetivas numa busca de narrativas para manifestar sua arte.

E nesse contexto, Toda forma de amor valerá é uma afirmativa/interrogativa escolhida para o novo trabalho da artista-escultura, que chega nesse momento de sua trajetória com uma nova paleta de cores e criação de novas formas tridimensionais. Há algo em seu universo poético que nos faz refletir sobre a estética do amor, manifestações do amor e escolhas para amar.

O que busca Rosylene Pinto com essa narrativa sobre o amor? Quais seus referenciais para reunir seus símbolos e signos nas esculturas que surgem do barro?  Quais os elementos do seu self que revelam um quase autorretrato? Estaria a maioria das suas figurações contidas nela mesma? Qual seria seu principal argumento para sustentar suas interpretações sobre o amor? Quais as contaminações do contexto cultural local e em tempos de globalização na teia do universo cibernético? 

Conectado com os quatro elementos da natureza, a expressão da artista revela suas inferências culturais/simbólicas expressas em várias formas de amar, seja na relação maternal entre a criadora e criatura, nas diversas formas de cuidado, na relação do ser humano com outros seres, amor homo e heteroafetivos e acima de tudo, o amor próprio no cuidado com sua arte. Sua memória afetiva traz a materialização de pequenos gestos que podem ser interpretados como manifestações do amor, os quais a artista nos oferta um dinamismo na composição que é fruto de novas experimentações e aprendizado que engendra a matéria-corpo, um figurativismo. Por fim, sua escultura parece ser matéria para um imbricado de percepções antropológicas e sociais numa tríade corpo-escultura-mundo.

A exposição Toda forma de amor valerá oportuniza ao público apreciador a criação de suas próprias narrativas a partir das imagens, texturas sensíveis, cheiros e sonoridades ofertadas. Assim, se lança Rosylene Pinto em sua primeira exposição individual, apresentada na Galeria do Sesc Arsenal em Cuiabá – MT.

 

Boa apreciação!

Profa. Dra. Imara Quadros

Curadora, docente e pesquisadora em Arte

 

Profa. Dra. Ruth Albernaz

Curadora e pesquisadora em Cultura e Etnoecologia

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BACHELARD, G. A água e os sonhos: ensaios sobre imaginação da matéria. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

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